segunda-feira, 24 de junho de 2013



Durante o almoço de hoje com a minha mãe, quando estávamos na sobremesa, ela disse que o meu avô iria adorar aquela sobremesa e desatou a chorar a dizer que morria de saudades. Senti-me completamente triste, porque mesmo que quisesse ajudar ou tentar acalmar a dor não me foi possível pois sinto exactamente o mesmo. 
O meu avô foi sempre o meu porto seguro desde pequenina, passava todas as minhas ferias com ele e era o meu herói. Foi assim durante anos, até que um dia ele decidiu partilhar todos os bens pela minha mãe e o meu tio e foi a gota de água, o meu pai em defesa da minha mãe discutiu com o meu avô e na verdade deixamos de ir visita-los como sempre fazíamos. As férias de Verão que passávamos todas com ele, passamos a ir só eu e a minha mãe uma semana vê-los, apesar de tentarmos manter as coisas como antigamente, nunca nada voltou a ser como era antes, sempre que lá ia-mos visita-los voltávamos ao mesmo tema de conversa.
Numa passagem de ano, ia eu para o Algarve com o meu namorado, quando recebo o pior telefonema da minha vida, a minha mãe ligou me a chorar a dizer que o meu avô tinha sofrido um enfarte,que estava em coma e que ia de avião para o Porto. O meu mundo caiu, fiquei completamente sem chão! Na altura não regressei a Lisboa, a minha mãe achou que não valia a pena voltar pois não podia fazer. Permaneci no Algarve e foi horrível, não saber o que se passava, não poder ajudar, não saber se ele sobrevivia, era angustiante. 
Passado uns meses saiu do Hospital, o meu Tio que sempre foi o queridinho e o "melhor" filho do mundo, recusou-se a tratar do pai e enfiou o meu avô e a minha avó num lar bem longe. Até que um dia numa visita no meio da semana, percebemos que os meus avós eram maltratados naquele lar e no mesmo dia trouxemos-os para Lisboa.
O meu avô faleceu 3/4 meses depois no meu quarto, ao meu lado, com a mão na minha! E foi o pior que me aconteceu na vida, nunca saberei explicar o que senti naquele momento, morreu ali o homem da minha vida, aquele que me educou, não morreu só alguém que eu amava, mas alguém que me amou como poucas pessoas o farão na vida. 
No funeral dele o filho que o roubou toda a vida e que o abandonou na morte, chorou mais que qualquer uma de nós, sempre que visito o meu avô no cemitério está tudo cheio de flores. E só me pergunto com a maior das tristezas se aquilo é possível. Como se abandona alguém que nos deu a vida, como se abandona alguém que nos amou como ninguém. Nunca mais voltei a falar com o meu Tio e por mais anos que passem nunca o perdoarei. 
Tinha 17 anos quando tudo aconteceu, não tinha nada, nem tinha nenhum poder de decisão, cedi o meu quarto ao meu avô para que ele pudesse viver connosco, durante meses dormi num sofá, para que o meu avô pudesse no mínimo ter um fim de vida com dignidade e não fosse maltratado num lar. O meu Tio que tinha uma vida completamente confortável e vivia muito bem, tirou-lhe tudo até a dignidade de viver. 
Sinto falta do meu avô, mesmo muita, sinto falta dos abraços, do carinho, das conversas, dos conselhos, sinto falta de alguém que me amava incondicionalmente e quem me dera ter aproveitado muito mais os últimos anos da vida dele. 
A minha avó faleceu meses depois dele. E aquela dor pareceu não ter fim. 

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